Uso de antibióticos em aves como tratamento
O objetivo da terapia antimicrobiana é ajudar na eliminação do organismo infetante do hospedeiro. Os antibióticos desempenham apenas um papel parcial nesse processo, e o sistema imunitário do hospedeiro é geralmente necessário para combater uma infeção. O cuidado de suporte é, portanto, um componente importante do plano terapêutico geral.
O resultado clínico do uso de um agente antimicrobiano depende da suscetibilidade intrínseca do agente e da atividade microbiológica do fármaco (eficácia), da capacidade do fármaco de alcançar o local da infeção em concentrações adequadas (farmacodinâmica). Há também o risco de uso de substâncias que não são a melhor escolha para o agente patogénico específico e que também podem ser tóxicas para a ave.
Infelizmente, os agentes infeciosos mais comuns em aves psitacídeas (bactérias gram-negativas, estreptococos e estafilococos) têm suscetibilidade antimicrobiana imprevisível. As bactérias gram-negativas são frequentemente resistentes aos antibióticos rotineiros (ampicilina, tetraciclina, cloranfenicol e eritromicina) no entanto, a maioria dos isolados é suscetível a combinações de antibióticos (trimetoprim/sulfas, enrofloxacina, amicacina e cefalosporinas de geração avançada e penicilinas). A maioria das leveduras é suscetível ao tratamento com nistatina, cetoconazol ou fluconazol. A clamídia é suscetível ao tratamento com tetraciclinas.
No entanto é necessário ter atenção aos possíveis efeitos secundários do uso destes fármacos. Os aminoglicosídeos são nefrotóxicos em doses terapêuticas e devem ser usados com extrema cautela em aves juvenis e desidratadas. As sulfas também devem ser usadas com cautela em aves uricémicas, porque são potencialmente nefrotóxicas em animais desidratados e são metabolizadas pela mesma via metabólica no fígado que o ácido úrico. As fluoroquinolonas causam defeitos na cartilagem articular de algumas espécies de animais em crescimento.
Há um outro problema muito prevalente e atual relacionado com o uso inadvertido de antibioterapia, o desenvolvimento de resistência aos antibióticos por parte das bactérias, processo que ocorre por dois métodos principais: a transferência de plasmídeos e mutação cromossómica.
Esses métodos podem:
1. Induzir a produção de uma enzima que degrada o antibiótico;
2. Alterar a permeabilidade da membrana e, portanto, impedir que o antibiótico penetre na bactéria;
3. Criar uma via metabólica alternativa que contorne a ação dos antibióticos. Os plasmídeos são feixes citoplasmáticos de ácido nucleico que podem ser transferidos entre diferentes espécies de bactérias, sendo assim o mecanismo mais importante para desenvolver, manter e transferir resistência em uma população bacteriana.
A resistência é mais comum entre bactérias gram-positivas e gram-negativas e menos comum em anaeróbios, clamídia e leveduras. O tratamento subterapêutico pode encorajar o desenvolvimento de bactérias resistentes. Se uma baixa concentração de antibiótico for alcançada no local da infeção (como normalmente ocorre com regimes de tratamento à base de água), apenas as bactérias altamente suscetíveis serão mortas. As bactérias resistentes restantes multiplicar-se-ão ocupando assim o espaço e nutrientes antes consumidos pelas bactérias suscetíveis. Com o tempo, bactérias resistentes podem estabelecer-se num hospital ou aviário. O tratamento subterapêutico ou aleatório e não específico é então considerado pior do que a inexistência de tratamento.
A abordagem geral ideal para tratamento de doenças bacterianas deveria ser a seguinte:
1. Identificar o agente patogénico e a localização da infeção;
2. Determinar a suscetibilidade antimicrobiana do isolado;
3. Selecionar um medicamento antimicrobiano com base na suscetibilidade, capacidade de atingir o local da infeção, rotas de administração disponíveis, frequência de administração necessária e toxicidade mínima para o hospedeiro;
4. Determinar se é viável para o proprietário da ave completar o regime de tratamento;
5. Tratar com antibióticos apropriados;
6. Manter as defesas do hospedeiro reduzindo o stress e maximizando os cuidados de suporte;
7. Encontrar e eliminar a fonte da bactéria;
8. Descontaminar o ambiente da ave.
Uso de antibióticos em aves como profilaxia
Visando prevenir possíveis infeções, os antibióticos são administrados antes de um evento que possa desencadear o crescimento de bactérias nocivas para o hospedeiro. Também pode impedir que uma infeção crónica ou recorrente volte.
A maior preocupação é o aumento da resistência aos antibióticos que ocorre através do seguinte processo:
1. Os antibióticos matam não apenas os germes que causam a doença, mas também as bactérias benéficas que protegem o corpo;
2. As bactérias resistentes aos antibióticos espalham-se e assumem o controlo;
Isto é eficaz atualmente no cuidado de aves? Um estudo realizado num pequeno grupo de 29 galinhas indica o contrário.
Encontraram evidências de que o uso profilático de antimicrobianos não previne infeções e pode, em vez disso, aumentar o risco de doenças clínicas em grupos de frangos. Em geral, o uso profilático de lincomicina, penicilinas, metenaminas e tetraciclinas tende a aumentar o risco de diarreia, e o uso profilático de lincomicina, penicilinas, macrolídeos e amfenicol tende a aumentar o risco de infeções respiratórias.
O uso terapêutico de qualquer classe de antimicrobianos resultou num aumento geral na mortalidade. A maioria das classes de antibióticos tem um forte efeito terapêutico na redução da mortalidade associada a infeções por diarreia. Para infeções respiratórias e do sistema nervoso central, o uso profilático de antibióticos parece altamente inconsistente e imprevisível, mesmo dentro de uma única classe de antimicrobianos. Lincomicina e metenaminas são as duas classes de antimicrobianos que mais aumentam o risco de doença quando usadas profilaticamente.
Alternativas ao uso de antibióticos e o futuro
Na produção animal, os antibióticos eram frequentemente usados como promotores de crescimento, mas atualmente, devido às resistências, tendem a ser substituídos.
As alternativas mais conhecidas e estudadas são:
1. Fitoquímicos (óleos essenciais; ex. resveratrol);
2. Acidificantes (ex. ácidos propiónicos; reduzem incidência de E. coli e outras bactérias e têm propriedades anti-inflamatórias);
3. Probióticos, prebióticos e simbióticos (auxiliam e ajudam a aumentar úmeros da flora benéfica);
4. Enzimas (efeitos antimicrobianos diretos por hidrólise das paredes celulares bacterianas ou comprometimento da integridade do glicocálix, ex. lisozimas);
5. Vírus bacteriófagos (atacam apenas um tipo de bactérias);
6. Peptídeos antimicrobianos (inibidores de amplo espectro de bactérias Gram-positivas ou Gram-negativas, que diminuem a diarreia).
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